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Discurso sobre o Estado da União de 2025 proferido pela presidente Ursula von der Leyen

A versão original do discurso está disponível aqui.

«Faz fé o texto proferido»

Presidente Metsola,

Senhoras e Senhores Deputados,

A Europa está a travar um combate.

Um combate por um continente que queremos unido e em paz.

Por uma Europa livre e independente.

Um combate pelos nossos valores e pelas nossas democracias.

Um combate pela nossa liberdade e pela capacidade de determinarmos, nós próprios, o nosso destino.

Que não haja qualquer dúvida: este é um combate pelo nosso futuro.

Pensei muito sobre se deveria dar início a este discurso sobre o estado da União com um diagnóstico tão sombrio.

A verdade é que nós, europeus, não estamos habituados a falar nestes termos, nem nos sentimos à vontade com eles.

Porque a nossa União é, na sua essência, um projeto de paz.

Mas a verdade é que o mundo de hoje é implacável.

E não podemos esconder as dificuldades que os europeus sentem no seu quotidiano.

É possível que sintam o chão a fugir-lhes.

Que sintam a realidade à sua volta a ficar mais difícil precisamente quando mais arduamente trabalham.

Que sintam os efeitos da crise mundial.

Que sintam os efeitos do aumento do custo de vida.

Sentem a rapidez com que essas mudanças afetam as suas vidas e carreiras.

E preocupam-se com o turbilhão contínuo de acontecimentos nas notícias, desde as imagens arrepiantes que nos chegam de Gaza aos ataques incessantes da Rússia na Ucrânia.

Não podemos simplesmente ficar à espera de que esta tempestade amaine.

Este verão mostrou-nos que não há espaço nem tempo para nostalgias.

Traçam-se neste momento as linhas de batalha de uma nova ordem mundial assente na força.

Por isso, sim, a Europa tem de combater.

Combater pelo seu lugar num mundo em que diversas grandes potências adotam atitudes ambíguas ou abertamente hostis face à Europa.

Um mundo de ambições e de guerras imperiais.

Um mundo em que as dependências são instrumentalizadas sem pudor.

É neste contexto que se impõe a emergência de uma nova Europa.

Senhoras e Senhores Deputados,

Este tem de ser o momento da independência europeia.

Estou convicta de que esta é a missão da nossa União. 

Sermos capazes de assegurar a nossa própria defesa e segurança.

Assumirmos o controlo das tecnologias e energias que estimularão as nossas economias.

Decidirmos em que tipo de sociedade e democracia queremos viver.

Estarmos abertos ao mundo e escolhermos parcerias com aliados, sejam eles novos ou velhos conhecidos.

Trata-se, afinal, de termos a liberdade e o poder de determinar o nosso próprio destino.

E estamos cientes de que temos capacidade para o fazer.

Porque, juntos, já mostrámos do que somos capazes quando a nossa ambição, unidade e sentido de urgência são partilhados.

Já perdi conta às vezes que me disseram que a Europa não era capaz de fazer isto ou aquilo.

Durante a pandemia. Em relação ao plano de recuperação. No domínio da defesa. No que respeita ao apoio à Ucrânia. Em relação à segurança energética.

E em tantos outros casos.

A verdade é que a Europa se manteve sempre unida e superou sempre os obstáculos.

Também agora teremos de o conseguir.

Portanto, Senhoras e Senhores Deputados, a questão primordial com que hoje nos confrontamos é simples.

A Europa está disposta a travar este combate?

Temos a unidade e o sentido de urgência necessários?

A vontade política e a capacidade política de alcançar consensos?

Ou optamos antes por lutar entre nós?

Por ficar paralisados pelo que nos divide.

São estas perguntas a que todos temos de responder, todos os Estados-Membros, todos os membros do Parlamento e todos os comissários.

Todos nós.

Para mim, a escolha é clara.

Por isso, venho hoje aqui defender uma mensagem de unidade.

Unidade entre os Estados-Membros.

Unidade entre as instituições da UE.

Unidade entre as forças democráticas pró-europeias no Parlamento.

Estou aqui — e todo o Colégio está aqui — disposta a concretizar este desígnio com todos vós.

Disposta a reforçar a maioria democrática pró-europeia.

Porque essa é a única maioria que pode dar resultados aos europeus.

Senhoras e Senhores Deputados,

A liberdade e a independência são os princípios pelos quais luta hoje o povo ucraniano.

Pessoas como o Sasha e a sua avó.

O Sasha tinha apenas 11 anos quando os russos atacaram a Ucrânia.

Ele e a sua mãe abrigaram-se numa cave na sua cidade, Mariupol.

Uma manhã, saíram desse abrigo para procurar comida.

E foi aí que o inferno se abateu sobre eles.

Uma chuva de bombas russas, num bairro de civis.

O Sasha deu por si na escuridão e com dores no rosto.

Tinha sido atingido por estilhaços um pouco abaixo dos olhos.

Em poucos dias, a cidade foi assaltada por soldados russos.

Levaram o Sasha e a sua mãe para o que os russos apelidaram de «campo de filtragem».

E, de seguida, o Sasha foi levado para outro lugar.

Disseram-lhe que não precisava da sua mãe.

Que ia para a Rússia e ia ter uma mãe russa.

Um passaporte russo.

Um nome russo.

Enviaram-no para a cidade ocupada de Donetsk.

Mas o Sasha não desistiu.

Numa das paragens que fizeram no caminho, pediu a um desconhecido para fazer uma chamada.

E telefonou à sua avó Liudmyla, que vivia na parte livre da Ucrânia.

«Baba, leva-me para casa.»

A avó não hesitou sequer um instante.

Os amigos disseram-lhe que era uma loucura ir em busca do neto.

Mas Liudmyla moveu montanhas para chegar até ao Sasha.

Com a ajuda do Governo ucraniano, viajou pela Polónia, Lituânia, Letónia e Rússia, chegando, finalmente, ao território ocupado da Ucrânia.

Trouxe o Sasha de volta.

Regressando pelo mesmo longo caminho no sentido inverso, trouxe-o de volta a um lugar seguro.

Mas o seu desgosto continua.

Todos os dias lutam para encontrar a mãe do Sasha, presa algures devido à brutal guerra da Rússia.

Gostaria de agradecer ao Sasha e a Liudmyla por me terem deixado partilhar a sua história.

É para mim uma honra tê-los hoje aqui connosco.

Senhoras e Senhores Deputados,

Aplaudamos o Sasha, Liudmyla e a luta incessante da Ucrânia pela liberdade.

Infelizmente, a história do Sasha está longe de ser única.

Há dezenas de milhares de crianças ucranianas cujo paradeiro é desconhecido.

Encurraladas. Ameaçadas. Obrigadas a negar a sua identidade.

Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar as crianças ucranianas.

Como tal, estou em condições de anunciar que, juntamente com a Ucrânia e outros parceiros, organizarei uma Cimeira da Coligação Internacional para o Regresso das Crianças Ucranianas.

Todas as crianças raptadas têm de ser devolvidas às suas casas.

Senhoras e Senhores Deputados, 

Esta guerra tem de culminar numa paz justa e duradoura para a Ucrânia.

Porque a liberdade da Ucrânia é a liberdade da Europa.  

As imagens que nos chegaram do Alasca não foram fáceis de digerir.

No entanto, apenas alguns dias mais tarde, dirigentes europeus foram a Washington para apoiar o presidente Zelensky e garantir compromissos.

Desde então, há progressos concretos a registar.

Na semana passada, 26 países da Coligação dos Decididos declararam estar dispostos a integrar uma força de garantia da paz na Ucrânia ou a participar nela financeiramente, no contexto de um cessar-fogo.

Continuaremos a apoiar todos os esforços diplomáticos para pôr termo a esta guerra.

Mas todos temos testemunhado o que a Rússia entende por «diplomacia».

Putin recusa reunir-se com o presidente Zelensky.

Na semana passada, a Rússia lançou o maior número de drones e mísseis balísticos num único ataque.

Ontem, um ataque de mísseis numa aldeia em Donetsk visou pessoas que aguardavam o pagamento das suas pensões.

Morreram mais de 20 pessoas.

E, já hoje, assistimos a uma violação imprudente e sem precedentes do espaço aéreo da Polónia e da Europa por mais de 10 drones russos. 

A Europa está totalmente solidária com a Polónia.

A mensagem de Putin é clara.

A nossa resposta deve ser igualmente inequívoca.

Temos de exercer mais pressão sobre a Rússia para que se sente à mesa das negociações.

Precisamos de mais sanções.

Em coordenação com parceiros, estamos agora a preparar o 19.º pacote de sanções.

Em particular, estamos a trabalhar para acelerar a eliminação progressiva do uso de combustíveis fósseis russos, de frotas-fantasma e de países intermediários.

Ao mesmo tempo, precisamos de mais apoios para a Ucrânia.

Até hoje, ninguém contribuiu tanto como a Europa.

Foram já cerca de 170 mil milhões de EUR concedidos em ajuda militar e financeira.

Mas é preciso fazer mais.

E não devem ser apenas os contribuintes europeus a suportar os custos.

Esta guerra é obra da Rússia. É a Rússia que a deve pagar.

É por esta razão que temos de trabalhar urgentemente numa nova solução para financiar o esforço de guerra da Ucrânia tendo por base os ativos russos imobilizados. 

Com os ganhos associados a estes ativos russos, podemos conceder à Ucrânia um empréstimo associado a reparações.

Não tocaremos nos ativos propriamente ditos.

E o risco terá de ser assumido coletivamente.

A Ucrânia só reembolsará o empréstimo depois de a Rússia pagar reparações.

Os fundos assim disponibilizados ajudarão a Ucrânia já a partir de hoje.

Mas serão igualmente cruciais a médio e longo prazo para a segurança da Ucrânia.

Por exemplo, para financiar forças armadas ucranianas fortes, sendo estas a primeira linha de garantias de segurança.

Iremos propor um novo programa com a designação Vantagem Militar Qualitativa.

Este programa apoiará investimentos nas capacidades das forças armadas ucranianas.

Vejamos o exemplo dos drones.

Antes da guerra, a Ucrânia não dispunha de quaisquer drones.

Hoje, os drones utilizados pela Ucrânia são responsáveis por mais de dois terços das perdas de equipamento russo.

Esta não é apenas uma vantagem no campo de batalha.

Lembra-nos bem do poder do engenho humano nas nossas sociedades abertas.

No entanto, a Rússia está a recuperar terreno rapidamente, com a ajuda de drones Shahed concebidos pelo Irão.

E a aproveitar a vantagem da produção industrial em massa.

Só na noite de sábado, a Rússia enviou 800 drones para a Ucrânia.

O engenho humano ajudou a abrir uma porta para a defesa da Ucrânia.

Por outro lado, porém, o poder industrial bruto poderá ameaçar fechar essa porta com estrondo.

Por isso, podemos utilizar a nossa força industrial para ajudar a Ucrânia a contrapor esta guerra de drones.

Podemos ajudar a transformar o engenho ucraniano em vantagens no campo de batalha, numa industrialização conjunta.  

É por esta razão que posso também anunciar que a Europa irá avançar 6 mil milhões de EUR ao abrigo da iniciativa de empréstimos ERA para formar uma aliança dos drones com a Ucrânia.

A Ucrânia tem o engenho.

Do que precisa agora é de escala.

E, juntos, podemos dar-lhe isso mesmo: para que a Ucrânia mantenha a sua vantagem e a Europa reforce também a sua.

Senhoras e Senhores Deputados,

A economia de guerra de Putin vai continuar mesmo que a guerra acabe.

Isso significa que a Europa deve estar disposta a assumir a responsabilidade da sua própria segurança. 

Como é evidente, a NATO continuará a desempenhar um papel fundamental. 

Mas só um posicionamento forte e credível da defesa europeia poderá garantir a nossa segurança.

Nestes últimos anos, conseguimos progressos históricos na construção da nossa União da Defesa.

No início deste ano, lançámos o plano «Prontidão 2030», que poderá mobilizar até 800 mil milhões de EUR em investimentos no domínio da defesa.

Aqui se inclui o programa SAFE, pronto desde já a disponibilizar 150 mil milhões de euros para aquisições comuns.

Dezanove Estados-Membros já apresentaram pedidos ao abrigo do programa que está inteiramente esgotado.

Esta é uma boa notícia.

Estamos também a trabalhar para dar um prémio de incentivo a quem apoia financeiramente a Ucrânia ou compra material à Ucrânia.

Trata-se de uma ajuda financeira de urgência em resposta a uma necessidade urgente.

E tive a oportunidade de constatar isso mesmo, na semana passada, quando visitei os Estados-Membros da primeira linha.

São eles que melhor conhecem a ameaça russa.

E não tenhamos dúvidas: o flanco oriental europeu protege toda a Europa.

Do Báltico ao Mar Negro.

E é por este motivo que devemos agora investir numa Vigilância do Flanco Leste para os apoiar.

Significa isto dotar a Europa de meios estratégicos independentes. 

Devemos investir em vigilância espacial em tempo real para que nenhuma movimentação de forças nos passe despercebida.

Temos de responder ao apelo dos nossos amigos bálticos, que há muito pressionam no sentido da construção de um muro de drones que negue aos adversários o elemento surpresa.

Esta não é uma ambição abstrata.

São os fundamentos de uma defesa credível.

Uma capacidade europeia desenvolvida, mobilizada e mantida em conjunto, capaz de dar respostas em tempo real, sem qualquer ambiguidade quanto às nossas intenções.

A Europa defenderá cada milímetro do seu território.

Em todos os países que visitei, ouvi a mesma mensagem: não há tempo a perder.

No próximo Conselho europeu, apresentaremos um roteiro claro das próximas ações.

Lançaremos novos projetos comuns no domínio da defesa.

Fixaremos objetivos claros para 2030.

E proporemos um semestre europeu da defesa.

Porque 2030 é já amanhã.

E é hoje que a Europa tem de se preparar.

Senhoras e Senhores Deputados, 

Quando falamos de independência, estamos a falar de escolher o nosso destino.

É por esse princípio que a Ucrânia está a lutar.

E é isso que todos os europeus merecem.

Porque a Europa é uma ideia: a ideia de liberdade e força recíproca. 

Foi esta a ideia que inspirou a geração pós-1989.

Quando o Leste e o Oeste se reuniram. 

E é tão poderosa hoje como o foi então.

Por isso, estamos a trabalhar para trazer futuros Estados-Membros para a nossa União.

Investindo. Apoiando reformas. Integrando no mercado único.

Temos de continuar a acelerar este processo com base no mérito.

Porque só uma Europa unida — e reunida — pode ser uma Europa independente.

Uma União alargada e mais forte é uma garantia de segurança para todos nós.

E porque para a Ucrânia, para a Moldávia e para os Balcãs Ocidentais, o futuro está na nossa União.

Avancemos para a próxima reunificação da Europa!

Senhoras e Senhores Deputados,

O que está a acontecer em Gaza abalou a consciência mundial.

Pessoas a morrer enquanto suplicam por comida.

Mães com bebés sem vida ao colo.

Estas imagens são, simplesmente, catastróficas.

Quero, por isso, começar por uma mensagem muito clara:

A fome deliberada não pode nunca ser usada como arma de guerra.

Pelas crianças, pela humanidade, esta situação tem de acabar.

É um aspeto que também faz parte de uma mudança mais sistemática que ocorreu nos últimos meses e é, simplesmente, inaceitável.

Assistimos à asfixia financeira da Autoridade Palestiniana.

Os planos para um projeto de colonato na chamada zona E1, pelos quais a Cisjordânia ocupada seria, no essencial, separada de Jerusalém Oriental.

As ações e as declarações dos ministros mais extremistas do Governo israelita, que incitam à violência.

Tudo isto aponta para uma clara tentativa de inviabilizar uma solução assente na coexistência de dois Estados.

De sabotar a visão de um Estado palestiniano viável, e não podemos deixar que isso aconteça.

Senhoras e Senhores Deputados,

Custa-me verdadeiramente proferir estas palavras.

E sei que, para muitos cidadãos, a incapacidade da Europa para chegar a acordo quanto a uma via comum é igualmente dolorosa.

Perguntam-se até que ponto a situação terá de piorar para que se chegue a uma resposta unida.

Compreendo-os.

Porque o que está a acontecer em Gaza é inaceitável.

E porque a Europa tem de liderar pelo exemplo, tal como já o fez anteriormente.

O nosso apoio financeiro e a nossa ajuda humanitária são muito superiores aos de quaisquer outros parceiros.

O nosso compromisso para com uma Autoridade Palestiniana viável preserva a viabilidade de uma solução assente na coexistência de dois Estados.

E temos de instar outros parceiros a intensificarem, com urgência, o seu apoio, na região e fora dela.

Mas, como é óbvio, a Europa tem de fazer mais.

Muitos Estados-Membros avançaram por sua própria iniciativa.

Do nosso lado, propusemos suspender uma parte do nosso financiamento do programa Horizonte.

Mas, sem uma maioria, a nossa proposta fica bloqueada.

Temos de resolver este problema.

Não podemos permitir-nos ficar paralisados.

Consequentemente, proporei um pacote de medidas para definir a via a seguir.

Em primeiro lugar, a Comissão fará tudo o que puder fazer sozinha.

Suspenderemos o nosso apoio bilateral a Israel.

Cessaremos todos os pagamentos nestes domínios, sem comprometer o nosso trabalho com a sociedade civil israelita nem com o Yad Vashem.  

Em segundo lugar, apresentaremos mais duas propostas ao Conselho.

Proporemos sanções contra os ministros extremistas e os colonos violentos.

Proporemos igualmente uma suspensão parcial do Acordo de Associação nas questões relacionadas com o comércio.

Estou ciente de que será difícil reunir uma maioria.

E sei que, para alguns, quaisquer medidas tomadas serão sempre demasiado fortes.

E, para outros, demasiado fracas.

Mas cada um tem de assumir as suas próprias responsabilidades: tanto o Parlamento, como o Conselho, como a Comissão.

Em terceiro lugar, criaremos, durante o próximo mês, um Grupo de Doadores à Palestina, que incluirá um instrumento específico para a reconstrução de Gaza.

Tratar-se-á de uma iniciativa internacional com parceiros regionais.

E aproveitará a dinâmica da Conferência de Nova Iorque organizada pela França e pela Arábia Saudita.

Senhoras e Senhores Deputados,

Sou amiga de longa data do povo de Israel.

Sei em que medida os atrozes ataques perpetrados em 7 de outubro por terroristas do Hamas abalaram a nação na sua essência.

Os reféns estão detidos por terroristas do Hamas há mais de 700 dias, desde o dia 7 de outubro.

São 700 dias de dor e sofrimento.

Nunca poderá haver lugar para o Hamas, nem hoje nem no futuro.

Porque são terroristas que querem destruir Israel.

E estão também a aterrorizar o seu próprio povo.

Comprometendo o seu futuro.

O objetivo da Europa sempre foi o mesmo.

Verdadeira segurança para Israel e um presente e um futuro seguros para todos os palestinianos.

E isto significa que os reféns têm de ser libertados.

Que toda a ajuda humanitária beneficie de um acesso ilimitado.

E que o cessar-fogo tem de ser imediato.

No entanto, a longo prazo, o único plano de paz realista é o que assenta na coexistência de dois Estados.

A viver lado a lado, em paz e segurança.

Onde seja assegurada a segurança de Israel, a viabilidade da autoridade palestiniana e a erradicação do flagelo do Hamas.

Foi isso que a Europa sempre defendeu.

E chegou o momento de nos unirmos e de ajudarmos a que se concretize.

Senhoras e Senhores Deputados, 

A independência da Europa dependerá da sua capacidade para competir nos tempos conturbados que vivemos.

Temos, aqui na Europa, tudo o que é necessário para prosperar, do nosso mercado único à nossa economia social de mercado.

Mas estamos conscientes de que enfrentamos condições económicas e geopolíticas muito adversas.

E já vimos como as nossas dependências podem ser utilizadas contra nós.

É por esta razão que faremos grandes investimentos no setor digital e nas tecnologias limpas.

Estão previstos mais investimentos no futuro Fundo Europeu de Competitividade e na duplicação do programa Horizonte Europa, o nosso programa de investigação e inovação.

E estamos a atacar os principais estrangulamentos identificados no relatório Draghi, da energia ao capital, do investimento à simplificação.

Encetámos diálogos estratégicos com as principais indústrias, do setor automóvel ao dos produtos químicos, do setor siderúrgico ao farmacêutico, do setor da defesa ao da agricultura.

Em cada setor, a mensagem é a mesma.

Para proteger os postos de trabalho, temos de facilitar a atividade das empresas na Europa.

E os pacotes omnibus que apresentámos até à data farão uma verdadeira diferença.

Menos burocracia, menos sobreposições, regras menos complexas.

As nossas propostas permitirão às empresas europeias poupar 8 mil milhões de EUR por ano em custos burocráticos.

O euro digital, por exemplo, facilitará a vida tanto das empresas como dos consumidores.

E estão a ser preparados outros pacotes omnibus, por exemplo, sobre a mobilidade militar e a digitalização.

Para as empresas inovadoras, estamos a preparar o chamado 28.º regime e a acelerar os trabalhos sobre a União da Poupança e dos Investimentos.

Porque temos muitas empresas em fase de arranque com elevado potencial em tecnologias-chave, como as tecnologias quânticas, a IA ou a biotecnologia.

À medida que se desenvolvem, a disponibilidade limitada de capital de risco obriga-as a orientarem-se para investidores estrangeiros.

São empregos e riqueza que se deslocam para outras regiões.

Esta situação compromete a nossa soberania tecnológica.

Por isso, a Comissão irá estabelecer parcerias com investidores privados num fundo europeu de vários milhares de milhões de euros para Empresas em Fase de Expansão.

Este fundo contribuirá para a realização de grandes investimentos em empresas jovens e em rápido crescimento, em domínios tecnológicos críticos.

Porque queremos que os melhores da Europa escolham a Europa.

Senhoras e Senhores Deputados,

O nosso maior trunfo é o mercado único, mas ainda não está concluído.

O FMI estima que os obstáculos que subsistem dentro do mercado único equivalem a direitos aduaneiros de 45 % sobre as mercadorias.

E de 110 % sobre os serviços.

Pensem no que estamos a perder.

E, tal como sublinhado no relatório Letta, o mercado único ainda não está concluído, em especial no domínio financeiro, no domínio da energia e no domínio das telecomunicações.

Precisamos de prazos políticos claros.

É por esta razão que apresentaremos um Roteiro do Mercado Único para 2028.

Sobre capitais, serviços, energia e telecomunicações, o 28.º regime e a Quinta Liberdade sobre conhecimento e inovação.

Só conseguimos alcançar aquilo que quantificamos.

Senhoras e Senhores Deputados,

Estas iniciativas permitirão igualmente apoiar o nosso investimento em tecnologias que terão um papel preponderante na nossa economia.

Uma economia limpa e digital.

Tomemos como exemplo a inteligência artificial.

Uma IA europeia é essencial para a nossa independência futura.

Contribuirá para estimular as nossas indústrias e as nossas sociedades.

Dos cuidados de saúde à defesa.

Concentraremos, assim, os nossos esforços nas pedras basilares— por exemplo, o ato legislativo sobre o desenvolvimento da computação em nuvem e da inteligência artificial e o Ambiente de Testagem Quântico.

Estamos a fazer grandes investimentos em Gigafábricas de IA Europeias.

Ajudam as nossas empresas em fase de arranque inovadoras a desenvolver, treinar e implantar modelos de IA da próxima geração.

Quando instámos o setor privado a unir esforços connosco, a resposta excedeu todas as expectativas.

Encontrar-me-ei, ainda hoje, com diretores executivos de alguns dos maiores Campeões Tecnológicos Europeus.

Apresentarão a sua Declaração sobre IA e Tecnologia Europeias.

Representa o seu compromisso de investimento na soberania tecnológica da Europa.

Temos igualmente de adotar esta abordagem no domínio das tecnologias limpas, do aço às baterias.

O setor europeu das tecnologias limpas tem de permanecer na Europa — e temos de tomar medidas urgentes.

No âmbito do Pacto da Indústria Limpa, identificámos os principais obstáculos que atrasam estes setores.

Temos agora de acelerar a execução deste.

Porque os investidores querem ter a certeza de que, se investirem, haverá procura de produtos limpos europeus.

É por esta razão que devemos centrar a nossa ação nos mercados pioneiros.

Para desencadear um círculo virtuoso.

Em que oferta e procura aumentam e os preços descem.

Do lado da oferta, lançaremos o pacote Estímulo às baterias.

Este pacote permitirá disponibilizar 1,8 mil milhões de EUR de capitais próprios para impulsionar a produção na Europa.

As baterias são uma peça-chave para a produção de outras tecnologias limpas, em especial de veículos elétricos.

São essenciais para a nossa independência.

Do lado da procura, temos urgentemente de impulsionar a procura para reforçar a liderança industrial europeia no domínio das tecnologias limpas.

É por esta razão que introduziremos um critério «Fabricado na Europa» na adjudicação de contratos públicos.

E quando investimos, por exemplo, na Estratégia Global Gateway, criamos fortes incentivos para que os parceiros comprem produtos europeus.

Estou convicta de que o futuro da indústria de tecnologias limpas continuará a ser construído na Europa.

Mas, para tal, temos também de garantir que a nossa indústria dispõe aqui, na Europa, das matérias-primas de que necessita.

Para o efeito, a única solução é a criação de uma economia verdadeiramente circular.

Por conseguinte, temos de avançar rapidamente no que diz respeito ao ato legislativo sobre a economia circular.

E avançar nos setores que já estão prontos.

Por último, temos de manter o ritmo.

Por conseguinte, a Comissão proporá um ato legislativo sobre o acelerador industrial para setores e tecnologias estratégicos essenciais.

Em suma, no que se refere ao setor digital e às tecnologias limpas: temos de ser mais rápidos, mais inteligentes e mais europeus. 

Senhoras e Senhores Deputados,

Atualmente, as fontes hipocarbónicas já representam mais de 70 % da nossa eletricidade.

Somos líderes mundiais no domínio das patentes de tecnologias limpas, à frente dos EUA, e em pé de igualdade com a China.

Estamos a aproximar-nos dos EUA no domínio do capital de risco para as tecnologias limpas e estamos bem à frente da China.

Estamos no bom caminho para alcançar o nosso objetivo de reduzir as emissões em, pelo menos, 55 % até 2030.

É este o poder do Pacto Ecológico Europeu.

Temos de manter o rumo em relação aos nossos objetivos climáticos e ambientais.

Os dados científicos não deixam margem para dúvidas.

E os argumentos económicos e em matéria de segurança são igualmente convincentes.

De facto, esta transformação é fundamental para os esforços que envidamos para a nossa independência.

Porque reduz a nossa dependência energética.

Porque a produção circular limita as nossas dependências estratégicas.

E porque cria indústrias pioneiras que podem exportar as suas soluções.

Quando falo com os países do Sul Global, da África à Índia, passando pela Ásia Central, vejo que procuram soluções.

Os seus mercados estão em rápida evolução e ainda não se sabe quem os irá dominar.

Somos nós quem poderá responder a esta procura crescente de soluções.

Mas não é um dado adquirido.

É por esta razão que a Comissão propôs as metas para 2040 — dez anos após o Acordo de Paris.

Sei que muitos cidadãos estão preocupados com a dimensão daquilo que nos espera.

É por isso que a transição deve apoiar os cidadãos e reforçar a indústria.

Para tal, temos também de aumentar significativamente o nosso investimento público e privado.

Criar mercados pioneiros para produtos circulares e limpos, a fim de gerar emprego e investimentos na Europa.

Assegurar uma transição justa para todos — por exemplo, através do Fundo Social em matéria de Clima.

Garantir condições de concorrência equitativas a nível mundial, nomeadamente através da promoção da tarifação do carbono.

A Europa tem de proteger as suas indústrias.

Estas estão a fazer o necessário para descarbonizar as suas atividades.

E devem ser recompensadas e incentivadas.

Caso contrário, corremos o risco de depender das importações de aço, de que os nossos fabricantes de automóveis necessitam, ou de adubos, de que os nossos agricultores necessitam.

Ficaríamos à mercê dos preços, dos volumes e da qualidade que os outros operadores quisessem e pudessem fornecer-nos.

Tomemos como exemplo o aço e os outros metais.

A sobrecapacidade mundial está a reduzir as margens e não incentiva ao pagamento de um prémio ecológico.

Esta situação dificulta o investimento da indústria siderúrgica europeia na descarbonização.

É por esta razão que a Comissão irá propor um novo instrumento comercial a longo prazo para dar continuidade às medidas de salvaguarda no setor do aço que vão expirar.

A Europa permanecerá sempre aberta.

Gostamos da concorrência.

Mas iremos sempre proteger a nossa indústria contra a concorrência desleal.

Senhoras e Senhores Deputados,

Quando falamos de competitividade, falamos de emprego.

Falamos das pessoas e dos seus meios de subsistência.

Por isso, se quisermos dispor de uma economia competitiva, temos de capacitar os trabalhadores.

É por esta razão que proporemos um ato legislativo sobre empregos de qualidade.

Para assegurar que o emprego moderno acompanha o ritmo da economia moderna.

Este aspeto é particularmente importante porque sabemos o quão difícil tem sido este período para tantas famílias.

Até que ponto os custos dispararam.

Até que ponto as pessoas fazem sacrifícios para fazer face às despesas.

Trata-se de uma questão elementar de justiça social.

É por esta razão que precisamos urgentemente de uma ambiciosa Estratégia da UE de Combate à Pobreza.

Apresentaremos o nosso plano para ajudar a erradicar a pobreza até 2050.

Este plano será apoiado por uma sólida Garantia para a Infância, a fim de proteger as nossas crianças da pobreza.

Apresentaremos igualmente uma série de pacotes sobre a acessibilidade financeira e o custo de vida.

Permitam-me apresentar-vos quatro exemplos ilustrativos.

O primeiro respeita à energia.

Quando os custos da energia aumentam, não se trata apenas de números numa fatura.

Todos os aspetos da vida das pessoas são afetados.

Assim, no auge da crise energética nos últimos anos, a Europa agiu.

E graças a este esforço comum, conseguimos rapidamente estabilizar os preços e garantir o aprovisionamento.

Estamos agora na via da independência energética.

Mas as faturas de energia continuam a ser uma verdadeira fonte de ansiedade para milhões de cidadãos europeus.

E os custos continuam a ser estruturalmente elevados para a indústria.

Sabemos o que levou ao aumento dos preços: a nossa dependência dos combustíveis fósseis russos.

Por isso, chegou o momento de nos libertarmos dos combustíveis fósseis russos poluentes.

E sabemos o que leva à descida dos preços: a energia limpa e de produção local.

Temos de produzir mais energias renováveis de produção local, com a energia nuclear como energia principal.

Mas também temos de modernizar e de investir urgentemente nas nossas infraestruturas e nas nossas interligações.

É por esta razão que proporemos um novo pacote relativo às redes para reforçar as nossas infraestruturas de rede e acelerar a concessão de licenças.

Simultaneamente, apresento hoje uma nova Iniciativa Autoestradas da Energia.

Identificámos oito principais estrangulamentos nas nossas infraestruturas energéticas.

Do estreito de Øresund ao canal da Sicília.

Esforçar-nos-emos agora para eliminar estes estrangulamentos um a um.

Reuniremos os governos e os serviços públicos para resolver todas as questões pendentes.

Porque os cidadãos europeus precisam de energia a preços acessíveis, e precisam dela agora.

Senhoras e Senhores Deputados,

Uma casa não são apenas quatro paredes e um telhado.

É também a segurança, o calor, um lugar onde se reúnem familiares e amigos.

É uma sensação de pertença.

Mas, para demasiados europeus, a questão da habitação tornou-se, hoje, uma fonte de ansiedade.

Pode ser sinónimo de dívidas ou de incerteza.

Os números contam uma verdade difícil.

Os preços da habitação aumentaram mais de 20 % desde 2015.

As licenças de construção diminuíram mais de 20 % em cinco anos.

Não se trata de uma mera crise da habitação.

É uma crise social.

Que desgasta o tecido social da Europa.

Que fragiliza a nossa coesão.

E que ameaça a nossa competitividade.

Os enfermeiros, os professores e os bombeiros não têm meios para viver onde trabalham.

Os estudantes abandonam os seus estudos porque não podem pagar a renda.

Os jovens constituem família cada vez mais tarde.

É por esta razão que, ainda este ano, depois de receber os vossos contributos, apresentaremos o primeiro Plano Europeu de Habitação a Preços Acessíveis.

Para tornar a habitação mais acessível, mais sustentável e de melhor qualidade.

Será um esforço europeu, alicerçado nas realidades locais.

Precisamos de repensar radicalmente a forma como enfrentamos este problema.

Temos de rever as nossas regras em matéria de auxílios estatais para permitir a aplicação de medidas de apoio à habitação.

Temos de facilitar a construção de novas casas e de novas residências de estudantes.

E proporemos igualmente uma iniciativa sobre o arrendamento de curta duração para tentar resolver os problemas que subsistem.

Temos de reunir toda a sociedade, todos os legisladores e todas as partes interessadas.

Neste espírito, organizaremos a primeira cimeira da UE sobre habitação para garantir que esta questão seja uma das nossas grandes prioridades.

Senhoras e Senhores Deputados,

A habitação é uma questão de dignidade.

É uma questão de justiça.

E diz também respeito ao futuro da Europa.

Há oito anos, o Pilar Europeu dos Direitos Sociais consagrou a habitação como um direito social na Europa.

Agora, há que concretizar esta promessa.

O terceiro exemplo que gostaria de salientar são os automóveis.

Os automóveis são um pilar da nossa economia e da nossa indústria.

São um motivo de orgulho para a Europa. 

Milhares de postos de trabalho dependem destas exportações.

No início deste ano, demos mais flexibilidade ao setor para que este pudesse alcançar as metas traçadas para 2025.

Esta estratégia está a dar resultados.

No que se refere à neutralidade tecnológica, estamos atualmente a preparar o reexame de 2035.

E milhões de europeus querem comprar automóveis europeus a preços acessíveis. 

Por isso, há também que investir em veículos pequenos e a preços razoáveis.

Tanto para suprir o mercado europeu como também para responder ao aumento da procura a nível mundial.

Eis a razão pela qual nos propomos trabalhar em conjunto com a indústria numa nova iniciativa relativa a automóveis pequenos e acessíveis.

Defendo que a Europa deve ter o seu próprio ecocarro europeu.

Eco de ecológico: limpo, eficiente e ligeiro.

Eco de económico: acessível às pessoas.

europeu: construído aqui na Europa, usando cadeias de aprovisionamento europeias.

Porque não podemos deixar que a China e outros países conquistem este mercado.

Custe o que custar, o futuro é elétrico.

A Europa fará parte desse futuro.

O futuro dos automóveis — e os automóveis do futuro — devem ser construídos na Europa.

Senhoras e Senhores Deputados,

O último exemplo que quero salientar tem a ver com os alimentos.

Na Europa, temos acesso a alimentos de elevada qualidade produzidos a preços acessíveis pelos nossos extraordinários agricultores e pescadores.

São também eles quem zela pelas terras e pelos oceanos, pela nossa biodiversidade.

Quem nos garante a nossa segurança alimentar.

Mas os ventos não lhes sopram de feição: veem-se confrontados com fatores de produção a custos elevados, burocracia ou concorrência desleal.

Estamos a atuar em todas estas frentes.

Simplificámos a PAC para diminuir a burocracia e aumentar a confiança.

Circunscrevemos o apoio ao rendimento no próximo Quadro Financeiro Plurianual.

E garantimos que o financiamento possa ser complementado por dotações nacionais e regionais. 

Mas os nossos agricultores precisam de uma concorrência leal e de condições de concorrência equitativas.

Isto é fundamental. 

Por este motivo, dispomos de salvaguardas sólidas no nosso acordo de comércio com o Mercosul, apoiadas por financiamento se houver necessidade de compensação.

Temos também de reforçar a posição dos agricultores na cadeia alimentar.

Há já demasiado tempo que o seu trabalho árduo não tem a devida recompensa.

Os agricultores têm direito a um preço justo pelos seus produtos alimentares e a um lucro adequado para as suas famílias.

Vamos reexaminar a aplicação da nossa legislação sobre práticas comerciais desleais.

E tomaremos medidas sempre que necessário.

Estou hoje em condições de vos anunciar que vamos reforçar o nosso orçamento para a promoção, a fim de lançar uma nova campanha «compre alimentos europeus».

Com efeito, podemos afirmar com orgulho que os nossos alimentos europeus são os melhores do mundo.

Senhoras e Senhores Deputados,

Ao falarmos de competitividade e independência, temos de falar sobre as nossas relações com os Estados Unidos.

Já ouvi falar muito sobre o acordo a que chegámos neste verão.

Compreendo as reações iniciais.

Permitam-me, pois, que seja o mais clara possível.

A nossa relação comercial com os Estados Unidos é, de todas, a mais importante.

Anualmente, exportamos para os EUA produtos num valor superior a 500 mil milhões de EUR.

Destas exportações dependem milhares de postos de trabalho.

Enquanto presidente da Comissão, nunca porei em risco os empregos ou os meios de subsistência dos cidadãos.

Por este motivo, assinámos um acordo para que as nossas indústrias possam continuar a ter acesso ao mercado.

E velámos por que a Europa obtivesse o melhor acordo possível.

Colocámos as nossas empresas numa vantagem relativa.

De facto, alguns dos nossos concorrentes diretos estão sujeitos a direitos aduaneiros norte-americanos muito mais elevados.

É certo que o seu direito de base pode ser inferior.

Mas se tivermos em conta as exceções que conseguimos assegurar e os direitos suplementares aplicados aos outros – nós alcançámos o melhor acordo. Sem qualquer dúvida.

Deixem-me ser bem clara quanto a um aspeto:

Quer se trate de regulamentação ambiental ou digital.

Somos nós que ditamos as nossas próprias normas.

Nós definimos a nossa própria regulamentação.

A Europa tomará sempre as suas próprias decisões.

Senhoras e Senhores Deputados,

Não acredito em direitos aduaneiros.

Um direito aduaneiro é uma imposição.

No entanto, este acordo assegura uma estabilidade essencial nas nossas relações com os EUA numa altura de grave insegurança mundial.

Pensem nas repercussões de uma guerra comercial desabrida com os EUA.

Imaginem o caos.

E agora juntem a este cenário as imagens que nos chegaram da China na semana passada.

A China ladeada pelos líderes da Rússia e da Coreia do Norte.

Putin a vangloriar-se do nível sem precedentes a que chegaram as relações entre a Rússia e a China.

Nada disto é verdadeiramente surpreendente.

Mas é um reflexo de um contexto em mutação.

E cria dois imperativos para a promoção da independência da Europa e o lugar que ocupa no mundo.

Em primeiro lugar, temos de intensificar a diversificação e as parcerias.

80 % das nossas trocas comerciais são realizadas com outros países que não os EUA.

Temos, pois, de tirar partido de novas oportunidades.

Numa altura em que se assiste à desintegração do sistema comercial mundial, estamos a garantir as regras mundiais através de acordos bilaterais.

Por exemplo, os acordos celebrados com o México ou com o Mercosul.

Ou a conclusão das negociações de um acordo histórico com a Índia até ao final deste ano.

Estabeleceremos também uma coligação de países que partilham os mesmos valores para procedermos à reforma do sistema comercial mundial — à semelhança do Acordo Global e Progressivo de Parceria Transpacífico.

Porque o comércio nos permite reforçar as nossas cadeias de aprovisionamento.

Abrir mercados.

Reduzir as dependências.

Trata-se, no fundo, de reforçar a nossa segurança económica.

O mundo quer Escolher a Europa.

E nós precisamos de relações comerciais com o mundo.

Em segundo lugar, é imperioso que a Europa avance onde outros se afastaram.

Veja-se o caso da investigação.

A ciência não tem passaporte, género, etnia ou cor política.

É um dos bens mais valiosos do mundo.

Por isso, a Comissão anunciou o pacote Escolher a Europa, num valor de 500 milhões de EUR, para atrair e reter os melhores cientistas e investigadores.

E a Europa deve também assumir a liderança no domínio da saúde mundial.

Estamos à beira – ou mesmo já no início – de uma nova crise sanitária mundial.

Formada em medicina, sinto-me chocada pela desinformação que hoje grassa e ameaça o progresso mundial em todas as áreas, desde o sarampo até à poliomielite.

Por este motivo, anuncio-vos hoje que a UE irá liderar uma nova iniciativa para a resiliência mundial da saúde.

Porque o mundo tem os olhos postos na Europa, e a Europa está pronta para assumir a liderança.

Senhoras e Senhores Deputados,

A independência da Europa destina-se a proteger as nossas liberdades.

A liberdade de decidirmos. De nos pronunciarmos. De nos deslocarmos por todo o continente.

A liberdade de votar. De amar. De rezar.

De viver numa União de igualdade.

A nossa democracia e o Estado de direito são os garantes dessas liberdades.

Foi por isso que tanto fizemos para reforçar os nossos instrumentos e intensificar a aplicação da legislação.

Criámos um ciclo do Estado de direito que permite a deteção atempada dos problemas e a sua resolução através do diálogo.

Precisamos de um ciclo anual integrado sobre o Estado de direito – um ritmo comum, marcos claros e contributos de todas as instituições.

E devemos orientar a nossa ação no sentido de colmatar as lacunas existentes.

Reforçámos a ligação entre os fundos e o respeito pelo Estado de direito.

E com o próximo orçamento de longo prazo iremos ainda mais longe.

Respeitar o Estado de direito é uma condição obrigatória para os fundos da UE. Agora e no futuro.

Porque a nossa democracia está a ser atacada. 

A manipulação da informação e a desinformação crescentes estão a dividir as nossas sociedades.

Minam a confiança não só na verdade como também na própria democracia.

Eis por que urge dispor de um escudo europeu da democracia

Precisamos de mais capacidade para monitorizar e detetar a manipulação da informação e a desinformação.

Assim, vamos criar um centro europeu da resiliência democrática.

Este centro congregará todos os conhecimentos especializados e as capacidades dos Estados-Membros e dos países vizinhos.

Senhoras e Senhores Deputados,

Em algumas comunidades da Europa, os meios de comunicação social tradicionais enfrentam dificuldades.

Em muitas zonas rurais, os tempos em que se ia comprar um jornal local não passam de uma saudosa recordação.

Esta situação deu azo a desertos noticiosos que são terrenos férteis para a desinformação.

Isto é extremamente perigoso para a nossa democracia.

Porque é essencial que haja cidadãos informados que possam confiar no que leem e ouvem para responsabilizar quem está no poder.

Quando os meios de comunicação social independentes são suprimidos ou neutralizados, a nossa capacidade de monitorizar a corrupção e preservar a democracia torna-se muito fraca.

Por isso, a primeira medida do manual de um autocrata é sempre o controlo dos meios de comunicação social independentes.

Desta forma, permite-se que os retrocessos e a corrupção aconteçam a coberto.

Temos, pois, de envidar mais esforços para proteger os nossos meios de comunicação social e a imprensa independente.

Para o efeito, vamos lançar um novo programa para a resiliência dos média que irá apoiar o jornalismo independente e a literacia mediática.

Mas temos também de investir para combater algumas das causas profundas desta tendência.

Por esta razão, propusemos aumentar consideravelmente o financiamento dos meios de comunicação social no próximo orçamento.

Importa também a estimular o investimento privado.

Para tal, vamos recorrer aos nossos instrumentos para apoiar meios de comunicação social independentes e locais.

A liberdade de imprensa é o alicerce da democracia.

Apoiaremos a imprensa da Europa para que se mantenha livre.

Senhoras e Senhores Deputados,

O mesmo se aplica às redes sociais.

Têm inegáveis vantagens para estabelecer ligações entre pessoas.

Gostaria, no entanto, de abordar uma questão específica.

As consequências de darmos aos nossos filhos um acesso sem restrições às redes sociais.

Tenho sete filhos e quatro netos, compreendo a ansiedade dos pais que fazem tudo ao seu alcance para manter os seus filhos seguros.

Para esses pais, é preocupante que os seus filhos, ao pegarem num telefone e navegarem no ecrã, estejam expostos aos mais diversos perigos.

Intimidação em linha.

Conteúdos para adultos.

Promoção da automutilação.

algoritmos que se aproveitam das vulnerabilidades das crianças com o objetivo explícito de criar dependências.

Muitas vezes, as mães e os pais sentem-se impotentes e desamparados.

Como se estivessem a afogar-se no maremoto das grandes empresas tecnológicas que inundou os seus lares.

Creio firmemente que a educação dos nossos filhos cabe aos pais e não a um algoritmo.

A sua voz tem de ser ouvida.

Estou hoje aqui para lhes dizer que os escuto.

Na minha época – nós, a sociedade – ensinámos aos nossos filhos que não podiam fumar, beber ou ver conteúdos para adultos até atingirem uma certa idade.

Creio que é altura de ponderarmos fazer o mesmo com as redes sociais.

Os nossos amigos australianos foram os primeiros a impor uma restrição de acesso às redes sociais.

Estou a acompanhar estreitamente a aplicação da sua política para ver quais as próximas medidas que poderemos adotar aqui na Europa.

Vou incumbir um grupo de peritos de me prestar aconselhamento até ao final do ano sobre a melhor abordagem para a Europa.

Esta questão será abordada cuidadosamente e todas as partes serão ouvidas.

Em todos os nossos esforços seremos orientados pela necessidade de proporcionar aos pais os instrumentos adequados e construir uma Europa mais segura para os nossos filhos.

Porque quando se trata da segurança das crianças quando navegam em linha, são os pais e não os lucros que importam à Europa.

Senhoras e Senhores Deputados,

Proteger a nossa democracia é a nossa missão mais importante.

Para isso, porém, também temos de mostrar que a democracia sabe dar resposta às preocupações legítimas das pessoas. 

Se há um domínio em que tal se tornou absolutamente evidente, é a migração.

Eis porque propusemos triplicar o financiamento da gestão da migração e das fronteiras no próximo orçamento. 

Para podermos gerir a migração de modo eficaz e proteger as nossas fronteiras externas.

Mas é óbvio que é preciso fazer mais.

Os europeus já provaram que estão dispostos a estender a mão a quem foge da guerra e da perseguição, mas ficam frustrados quando sentem que as nossas regras não são respeitadas. 

É por esse motivo que se impõe intensificar os nossos esforços.

Precisamos de um sistema que seja humano, mas que não seja ingénuo.

Há que levar a sério o regresso dos requerentes de asilo recusados aos respetivos países de origem.

É inaceitável que apenas 20 % das pessoas que não são autorizadas a permanecer na Europa saiam efetivamente da Europa.

Precisamos, pois, de chegar rapidamente a acordo sobre o sistema comum de regresso europeu.

Não podemos perder mais tempo.

E também temos de assegurar a aplicação plena e cabal do Pacto sobre Migração e Asilo logo que este entre em vigor.

O pacto é rigoroso, mas é justo.

E só funcionará se todos fizerem a sua parte.

Estados-Membros do Norte e do Sul, do Leste e do Oeste.

É claro que cumpriremos sempre as nossas obrigações internacionais.

Mas na Europa somos nós que decidimos quem deixar entrar e em que circunstâncias, não são os passadores nem os traficantes de seres humanos.

Esses são criminosos que ganham fortunas fazendo promessas cínicas, falsas e fatais.

É por isso que temos de destruir o seu modelo de negócio.

Embora os números gerais apontem para um recuo do fenómeno, ainda há demasiadas pessoas a tentar atravessar as fronteiras ilegalmente ou a perecer pelo caminho.  

Temos de trabalhar em conjunto com as plataformas das redes sociais para pôr cobro ao planeamento e à publicidade em linha das operações de tráfico de seres humanos.

Temos de cooperar mais de perto com as companhias aéreas, designadamente em rotas problemáticas como as que têm como destino a Bielorrússia.

E é só seguindo o rasto do dinheiro que conseguiremos localizar as redes criminosas e secar as suas fontes de financiamento.

E precisamos de um novo regime de sanções que vise especificamente os passadores e os traficantes de seres humanos.

Para congelar os seus bens.

Para tolher as suas possibilidades de movimento.

Para lhes limitar drasticamente os lucros.

O tráfico de seres humanos é um negócio atroz e criminoso e, na Europa, nenhum passador ou traficante pode ficar impune.

Senhoras e Senhores Deputados,

O que pretendo salientar é simples.

O que é importante para os europeus é importante para a Europa.

É nosso dever constante tudo fazer para produzir resultados.

Este verão, todos vimos as imagens das florestas e aldeias da Europa em chamas.

Ardeu mais de um milhão de hectares.

Uma área equivalente a cerca de um terço da Bélgica.

A magnitude dos danos é enorme.

E todos sabemos que esta não é uma situação pontual.

As alterações climáticas estão a tornar cada verão mais quente, mais duro e mais perigoso.

Razão pela qual temos de intensificar radicalmente os nossos esforços em matéria de resiliência e adaptação às alterações climáticas e avançar com soluções baseadas na natureza.

Mas temos também de nos dotarmos das ferramentas necessárias para dar respostas.

Por este motivo, iremos propor a criação de um novo polo europeu de combate a incêndios baseado em Chipre, que poderá igualmente apoiar os nossos vizinhos da região.

Estamos cientes da diferença que faz o nosso Mecanismo de Proteção Civil.

Este verão, 760 corajosos europeus foram mobilizados para todos os cantos da Europa.

Literalmente, a correrem em direção às chamas.

Gostaria de concluir o meu discurso com uma homenagem a essas pessoas – bombeiros, pilotos, equipas.

Todos responderam ao apelo.

Deixem-me contar-vos a história de um grupo de 20 guardas-florestais gregos.

São especialistas em domar os mais violentos incêndios florestais.

Quando o fogo deflagrou na região das Astúrias, Espanha pediu a ajuda da Europa.

E a Grécia respondeu ao chamado.

As chamas eram tão vastas que a nuvem de fumo era visível do espaço.

Mas, durante cinco dias, os 20 guardas-florestais gregos combateram-nas lado a lado com os seus colegas espanhóis.

Com as chamas a aproximarem-se da aldeia de Genestoso, lutaram dia e noite para conter este inferno.

E no final, juntos, controlaram o fogo e salvaram a aldeia.

Senhoras e Senhores Deputados,

É para mim uma honra acolher aqui hoje um destes heróis.

O líder da equipa grega, o comandante Nikolaos Paisios.

Comandante, Caro Nikolaos,

A sua coragem é uma inspiração para todos nós.

Pela sua determinação, pelo seu empenho e pela sua extraordinária liderança:

Ευχαριστώ, a si e a toda a sua equipa de heróis europeus.

Senhoras e Senhores Deputados,

Esta é a Europa enquanto comunidade.

Esta é a Europa que eu amo.

Esta é a Europa que temos de proteger a todo o custo.

E temos de o fazer juntos.

É meu desejo trabalhar com o Parlamento e com todas as forças democráticas pró-europeias para conseguir resultados concretos para os europeus.

Estou a trabalhar na preparação de pacotes legislativos que darão força a esta maioria pró-europeia.

Cara Roberta, estou muito contente por termos conseguido renovar o acordo-quadro entre a Comissão e o Parlamento.

A nossa cooperação sairá reforçada.

Potenciará o trabalho conjunto que temos de desenvolver para realizar as verdadeiras reformas que são necessárias.

Porque eu apoio o direito de iniciativa do Parlamento Europeu.

E acredito que temos de introduzir a aprovação por maioria qualificada em alguns domínios, como é o caso da política externa.

Está na altura de nos soltarmos das amarras impostas pela unanimidade.

É essencial garantirmos que a nossa União atua com rapidez e é capaz de dar resposta às necessidades dos europeus.

Porque só assim podemos vencer este combate, juntos.

Para concretizar momentos de independência europeia.

E não nos esqueçamos de que sempre tivemos de lutar pelas nossas liberdades.

Da geração que lutou corpo a corpo por todo o nosso continente.

À imprensa clandestina que manteve viva a chama da liberdade na Europa Central e de Leste durante a Guerra Fria.

Ou à Irmandade da Floresta, nos países bálticos, que resistiu incessantemente à opressão soviética.

Esta luta, este combate, estão profundamente enraizados na essência do que é ser europeu.

Há 80 anos, o nosso continente era palco do inferno na terra.

Há 40 anos, o nosso continente estava dividido por um Muro.

Mas, em cada momento, os europeus decidiram lutar por um futuro melhor.

Por se reunir num todo e por fortalecer esse todo.

E são estes os ideais por que lutarei todos os dias.

Viva a Europa!

Fonte: Comissão Europeia

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